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sábado, 17 de março de 2012

M - (4.Piece of Paper)



M
4. Piece of Paper
essência da amizade. O perfume das folhas se chocando com a realidade nunca vista. Nunca mais meus pensamentos seriam os mesmos.
Já tinha aceitado o fato que eu gostava do Mitsuhiro Daisuke e minhas amigas Lucy e Runa também já sabiam. Fiquei a pensar por horas como encará-lo de agora em diante. Será que ele notaria que é a pessoa por quem me apaixonei? Seria muito vergonhoso. Mas também, não tinha certeza se eu não queria que ele não notasse. 


Mas porque que eu gostava dele? Não havia algo de destaque em sua personalidade, talvez seja só uma atração. Ele não ia bem nos estudos, não tinha um físico muito bom e também não era um príncipe como eu sempre desejei. Todas as meninas desejam um príncipe. Educado, bonito e gentil. Daisuke não era nada disso. Na verdade, eu o achava muito fofo e bonito... Minhas amigas não diziam o mesmo. Talvez pensassem, mas não diziam.
O livro que a professora tinha passado para a gente fazer tinha uma data de entrega. Quando essa data chegou, todos entregaram, eu também. Como era de se esperar, a maioria havia feito livros com 5 à 8 páginas... Poxa, estávamos na 4ª série. Mas também tinham muitos ‘nerds’ que faziam de 20 páginas. Mas eu também não podia dizer nada... O meu tinha 35. Meus amigos e amigas acharam muito extenso e também elogiavam.
- Nossa Shino! Esse é um livrão mesmo né! – Disse Lucy – O meu só tem 5 páginas. Hahahaha!
- Sobre o que você fez Lucy?
- Sobre uma história de amor. Havia um casal que se amavam muito, mas no final a menina tem câncer.
Havia muitas histórias assim. Ás vezes não era câncer, mas acidentes de carro por exemplo. Todos entregavam os livros na mesa da professora e voltavam aos próprios lugares. Virei para trás e perguntei:
- Daisuke, sobre o que você fez?
- Hã?
- O livro! O seu é sobre o que?
- Ah... Isso... Eu não fiz.
- O que? Sério? Por quê?
- Ah... Dá muito trabalho... E é chato.
Isso é muito cara do Daisuke. Ele nunca fazia as tarefas certinhas, mesmo assim... Tinha algo especial nele que eu amava muito.
Eu tentei reagir como sempre. No intervalo para o lanche, jogávamos aquele “pega-pega de cabeça”. Era uma alegria e tanta tocar nos lisos cabelos dele e sempre ver o sorriso tímido estampado em sua cara de criança. Éramos somente crianças.
Depois da aula, ficamos embaixo daquela pequena arvore ao lado do portão da escola Harukaze. A mãe de Runa a buscou e fui embora de van... Muitas vezes o pai do Daisuke atrasava e eu ia embora sem vê-lo partir... Era ele quem via a minha despedida com a mão balançando acenando ‘tchau’.
No outro dia, já no começo da aula a professora me chamou lá na frente:
- Kanata Shino, foi você quem escreveu esse livro?
- Sim senhora.
- Meu Deus, que imaginação, querida. Sua história é muito engraçada e é simplesmente inacreditável que uma criança de sua idade tenha escrito algo que nem adolescentes do colegial conseguem hoje em dia.
- Obrigada.
- Kanata, você pode ler para a sala?
- Claro que posso. – Afirmei.
Eu pulei de felicidade, mentalmente. Eu sempre amei chamar atenção dos meus professores, deve ser porque minha mãe me educou de um jeito um pouco rigoroso dizendo sempre para ser ‘a melhor’ da sala. Não é que eu era... Tinha muitas pessoas mais inteligentes do que eu na minha classe.
A sala não ficava quieta, mas quando comecei a ler a terceira linha, todos os olhos estavam presos e concentrados na minha fala. Era impressionante chamar tanta atenção e tirar tantos risos. Sem querer me gabar, mas a minha história era muito engraçada. Graças à ajuda de minha mãe.
Tirei muitos aplausos e também foi decidido que iríamos fazer um teatro dessa história quando chegássemos à escola Utakata. Essa data já estava próxima.
Falando em data, já era dia dos pais. Todos estávamos preparando cartões para os nossos.
Depois da aula, na pequena arvore estávamos discutindo:
- Que raridade, hoje o Ryuu não veio. – comecei um assunto.
- Deve ter ficado de castigo, ouvi dizer que a mãe dele é muito brava. – Daisuke complementou.
- É mesmo, ainda mais que as notas já saíram. – Disse Runa – Ah, tenho que ir, minha mãe já esta aqui. Tchau Shino, tchau Daisuke.
Ela o chamando pelo primeiro nome me deixou um pouco impressionada. Mas acho que é normal, pois sempre brincamos juntos... Não era estranho.
Assim, restou apenas eu e Daisuke.
- Shino, você vai dar alguma coisa para o seu pai de Dia dos Pais.
- Não... Vou dar pra minha avó.
- Hahaha!!! Sério? Ta brincando, não é?
- Não, é sério. Não tenho pai.
- Por que? Onde ele esta?
- Não sei. Hahaha! – Disse fazendo uma cara de boba – Parece que esta no exterior. Ele abandonou minha mãe quando eu ainda era  só um bebe.
- Ah... Desculpa tocar nisso.
- Não tem problema, eu não ligo mesmo. Mas no lugar dele tenho uma pessoa muito melhor!
- Ah é? Sua avó? Com quem você mora?
- Com minha mãe e minha avó. Eu não sinto falta de um pai.
- Você não o vê? Nunca o viu?
- Vi sim... Quando tinha uns 3 anos, ele veio prá cá... Mas partiu logo.
- Ah sim. Sua avó e sua mãe devem ser muito boas mesmo, não é?
- São sim... São muito boas.
Essa conversa durou um longo tempo. Mas no final não consegui descobrir muita coisa dele. Somente sabia que o pai da pessoa que eu amava dirigia uma moto e tinha uma auto-escola de automóveis com o mesmo sobrenome: Mitsuhiro. Mas eu não queria saber do pai dele. Queria saber coisas como: O que você gosta de fazer... Que tipo de musicas você ouve... Como você é no dia-a-dia fora da escola... Que tipo de garota você gosta...
Ouras coisas eu descobria com o passar do tempo. Fiquei sabendo pela Runa que ele morava num apartamento não muito longe de casa, era perto da onde o pai dele trabalhava.
Já chegávamos numa época bem crítica para quem gosta de alguém da escola: as férias. Depois das férias iríamos voltar para a nossa querida escola Utakata.
Fui até o ultimo dia de aula, apesar de a maioria dos alunos não irem mais a escola. Da minha sala, estava presentes até o ultimo dia de aula: eu, Runa, Lucy, Hatase, Daisuke e mais umas 4 pessoas.
Muitas vezes, nesses últimos dias, a professora nos deixava ir para o pátio jogar qualquer coisa. Como sempre eu e Daisuke ficávamos nos batendo na cabeça:
- Hm... Isso vai dar amor, hem! – Algumas pessoas diziam.
- Claro que não! – Eu e Daisuke dizíamos em sincronia.
Mas apesar de dizerem isso, no ultimo dia de aula aproveitamos o máximo essa brincadeira já que não nos veríamos por quase um mês... Mas o sinal final tocou e nos reunimos na pequena árvore.
- Hoje meu pai esta atrasado – Disse Lucy – Posso ficar com vocês um pouco?
- Claro que sim! – Disse Hatase – “Positive”!
- Hã?! E o que você esta fazendo aqui, seu magrela? – Lucy tentou começar a brigar... Mas Hatase era muito tranqüilo
- Eita, estou esperando meu irmão... Hoje ele não veio na escola e parece que estava por aqui... Mas se ele não aparecer vou pegar carona com você, Lucy! Eu me garanto!
- Hã?! – O rosto dela avermelhou – Esta brincando não é?
- Haha! É brincadeira!
Após os dois irem embora, Runa também acabou indo...
- Ah que calor! – Reclamou Daisuke – Até que enfim férias! Não agüentava mais!
- Haha! Eu também! – Apesar de não querer dizer isso, concordei.
- Ah, meu pai...
- Hã? Hoje você vai embora primeiro? O tio da minha van esta atrasado!
- Haha! Ganhei! – Disse com um sorriso alegre – Até mais!
- Até...!
Vi ele colocando o capacete e montando na moto... Ainda estava em velocidade muito baixa quando viraram a esquina quando o vi acenando com a mão um “tchau”.
Eu tentei fazer o mais rápido possível, acenei rapidinho... Será que ele viu?
Assim sobrei lá naquela pequena árvore. De repente as lágrimas começaram a sair espontaneamente... Elas rolavam a medida de que eu não queria ficar longe dele.
Ao chegar em casa, morrendo de fome desarrumei minha mochila rapidamente separando os materiais. No canto de colocar a garrafinha de água na mochila, encontrei um papelzinho, desses de bilhetinhos que mandamos na sala de aula.
Eu já ia amassar e jogar no lixo quando pensei melhor pra ver se tinha alguma coisa escrita... E havia.  Hoje, apenas lembro que estava escrito isso:
“Kanata Shino, sempre sonho com você...”
Meus olhos paralisaram por um momento... Senti como se o tempo tivesse parado. O papel estava amassado demais para descobrir de quem era aquela letra... Mas quem será que mandou aquele pedaço de papel?

Autora: Hotaru Any

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